Minhas avós - Vó Magdalena

Minha Vó Magdalena, mãe da minha mãe.

Um pessoa muito querida, tranqüila e apaixonada pelo meu Nono, pelos dois filhos, minha mãe Regina e o meu padrinho Reginaldo. E é claro, todo amor que ela tinha no seu coração era também dado aos seus netos: eu, minhas irmãs Ni e Jê, e os meus primos Marcelo e Murilo, e no meio desta família toda, ainda sobrava tempo para admirar e dar toda a sua atenção, carinho e amor ao seu genro, meu pai Oswaldo, e a sua nora, minha tia Ana.

Minha vó estava sempre preocupada em não magoar ninguém e que ninguém brigasse com ninguém (tá vendo só, um anjo em pessoa). Até consigo ver a carinha dela quando por algum motivo havia uma discussão mais fervorosa na família. Ela fazia um biquinho de como se estivesse para chorar e dizia: "não briguem, para que brigar?"

Ela era uma costureira de mão cheia. Tinha uma clientela enorme e ainda encontrava tempo para fazer roupinhas para nós (mais precisamente para as netinhas e para minha mãe). Além de costureira ela vendia um monte de coisinhas, desde lingerie até cobertores. Quando eu era pequena, ela viajava até São Paulo para comprar as mercadorias para sua lojinha. Eu adorava, pois ela sempre trazia algo para nós. Lembro das seguintes coisas: uva passas, uma corneta vermelha, shampoo e condicionador (creme rinse na época) de bisnaguinha. Quando ela voltava de viagem era uma festa só. Abríamos todos aqueles pacotes, mas sempre com ela ao nosso lado dizendo para não desordenar pois ainda tinha que verificar as notas fiscais. Não que ela fosse uma pessoa muito organizada, ou pelo menos não se encaixava no meu padrão de organização.

A casa dela era uma bagunça só. No quarto da frente, o maior da casa e antigo quarto do casal, era de onde ela operava a lojinha dela. Quase todas as mercadorias ficavam sobre a cama, embora ouvesse bastante armários, mas que nada, a desculpa dela é que não dava tempo, pois sempre havia um entra e sai de freguesas... Ha, ha, ha... Pura desculpa, ela não gostava mesmo de arrumar a bagunça, preferia usar o tempo em frente à maquina de costura. Muitas vezes, ela ficava tão absorvida costurando que perdia a noção do tempo. Quantas vezes eu a vi saindo correndo do quartinho de costura toda vermelha, meio que rindo, e com o coração a mill pois faltavam apenas quinze minutos para o Nono chegar para o almoço e ela não havia preparado nada ainda!!! Era divertido vê-la neste estado. Invariavelmente, ela conseguia ajeitar algo a tempo (um ovo frito, arroz, salada e outras coisinhas que o meu Nono fazia: pepino em conserva, Krem - como é mesmo que a gente escreve isto, aquela raiz branca super forte?).

Meu Nono sempre tirava uma sonequinha após o almoço, e era nestas horas que eu e a minha vó ficávamos papeando enquanto terminávamos de almoçar, e coincidência ou não, meu Nono nunca podia dormir tranqüilo, pois eu e minha vó tínhamos ataques de risos. E quanto mais o meu Nono batia nas paredes para que ficássemos quietas, mais ríamos... (e isto passou de uma geração para outra, pois quando minha mãe era jovem, era a mesma coisa!). Às vezes, íamos para o quintal nos fundos da casa para continuarmos a rir. E quantas vezes, o riso era tanto que ela não conseguia chegar a tempo ao banheiro.

Minha vó sabia fazer um monte de comidinha gostosa. No começo do ano fazíamos vinho em casa. Os homens eram encarregados do processo de fabricação do vinho e a mulherada se voltava para a cozinha para fazer geléia e suco de uva! Ainda não encontrei geléia de uva como a da minha vó. Ela também fazia gengibirra e cerveja. Confesso que não gostava da cerveja (muito doce e sem gás, sem contar o cheiro do lúpulo!!!). Nos domingos, a família se reúnia na casa dela para comer polenta. Como nunca gostei de polenta, ela fazia macarrão para mim, e não era macarrão comprado em mercado, pois ela mesma fazia o macarrão em casa. Quando íamos passar as férias na casa dela, eu já sabia que uma tarde seria dedicada para fazer sonho (recheio de goiabada) e pastel de carne e a banana (e com o restinho da massa, fazíamos crostolli cobertos de açúcar e canela. Delicioso!). Nem todo o cardápio de final de semana era polenta, intercalávamos com churrasquinho/galeto, macarronada, e lá de vez em quando conseguíamos convencê-la, fazíamos bife completo. Ela não gostava muito de fazer isto, pois era muito ''trabalhoso'''. Tinha-se que fritar ovo, bife e batatinhas. Era muita fritura para ela. Eu também gostava da ''espuma de sapo'' com bananas caramelizadas (espuma de sapo = mingau de leite com claras de ovo), pudim de leite sem raspa de laranja, cuque. Meu pai adorava o manjar de côco com calda de vinho, eu já não gostava muito por causa do côco (não que não goste de côco, só não gosto dos fiapinhos de côco na boca e entre os dentes). E poderia continuar enumerando outras coisinhas mais, mas faltaria espaço para escrever todas as coisinhas gostosas que ela fazia.

Quando eu tinha uns catorze anos, fui morar com o meus avós. Foi uma das melhores épocas da minha vida. Pela manhã ía para o colégio, chegava e o almoço já estava pronto, almoçávamos e minha vó e eu ficávamos tagarelando (em meio as gargalhadas costumeiras) até umas duas e meia da tarde. Daí ela ía para o seu quartinho de costura e eu ficava arrumando a bagunça que ela fazia pela manhã. Ela era tão desorganizada que conseguia fazer a maior bagunça nas duas cozinhas (a da casa da frente e a da casa dos fundos). A cozinha da casa dos fundos era designada para as frituras, e gente, ela conseguia sujar todas as frigideiras! A cozinha da casa da frente era para o arrozinho, feijão, saladinha...., coisas mais amenas que não sujassem as paredes, segundo ela. E vendo-a fazer o almoço então... parecia uma comédia: começava sempre atrasada e olhava no relógio e dizia: ''ai meu deus do céu, o Lipe (meu Nono) vai chegar e ainda não tem nada pronto..", daí a correria de uma casa para a outra, leva uma panela da casa da frente para a casa dos fundos, começa a fazer a salada na casa da frente e corre para a casa dos fundos, pois o azeite que ela havia deixado esquentando na frigideira já estava saindo fumacinha, no meio do vai e vem, ela gritava por mim: ''Nene, traz a margarina...!''. No começo eu ficava desesperada, mas aprendi a relaxar, pois de alguma forma as coisas se ajeitavam.

Às vezes, nós estávamos tão cansada (eu por estar estudando feito uma louca para passar no vestibular, e ela por ter levantado super cedo) que decidíamos tirar uma sonequinha juntas. Escolhíamos o quarto (sim, pois havia quartos para escolher) e nos jogávamos na cama, mas pensa que conseguíamos dormir? Começávamos a fofocar e dar risadas e o sono passava. Quando a gente conseguia começar a dormir, ela começava a roncar e acordava com o seu próprio ronco, e dizia: "ai, acho que estava roncando.... Daí tínhamos que acordar e já era hora do café da tarde. Ela sabia que eu adorava pão fresquinho, então lá pelas quatro da tarde, a Kombi do pão (uma Kombi azul) passava no bairro buzinando e lá ia a minha vó comprar pão-d'água para a netinha comer com aquele café com leite...

Ela adorava bichos. Quando eu era pequena, ela tinha um cachorro pequenês, Djobi, que era mais como um filho. Era o primeiro a receber o café da manhã (pedacinhos de pão molhados no café com leite, ah e ele adorava gemada!), e ele seguia a minha vó de um lado para o outro. Quando ele morreu foi um drama. Ele estava bem velhinho e o meu Nono teve que levá-lo num veterinário para tomar uma ''injeção". Acho que minha vó nunca se recuperou do vazio que o bichinho deixou na vida dela, pois sempre que a gente começava a falar nele, os olhinhos dela se enchiam de lágrimas.

Quando ainda morava com os meus avós, minha vó teve câncer de útero. Foi um auê na família. Ela acabou fazendo uma operação para a retirada do órgão, tomou um monte de remédios, mas não me lembro dela ter feito radio ou quimioterapia... Bem, o fato é que ela passou alguns anos livre da doença, mas quando eu estava para vir para cá, ela foi diagnosticada com câncer de pulmão! Teve que tirar um deles, mas aí já era tarde porque alguns anos depois o câncer apareceu no cérebro e este foi fatal. Lembro-me do dia que ela faleceu e de como me senti desamparada. Chorei muito... Lembro-me de um dia quando telefonei para ela e falei que estava me sentindo sozinha aqui, que sentia falta de todos (em fim, lamentações de quem está longe de casa...), na hora ela falou que ela pagaria a passagem para eu voltar que a casa dela tinha bastante espaço e eu e o meu pimpolho poderíamos morar com eles... Tadinha, neste mesmo telefonema ela me disse que não andava muito bem da cabeça e andava fazendo coisas estranhas, tipo indo ao mercado para comprar repolho e escondendo o dito na sacola (não quis usar a palavra roubar!). Bem, nesta época o câncer já estava se manifestando na pobre da cabecinha dela.

Ela se foi e a vida da família mudou bastante, meu Nono deixou de ser alegre e aos pouquinhos foi perdendo a vontade de viver. Dizem que em grandes histórias de amor, quando um morre em seguida o outro vai encontrar o bem amado. E foi isto que aconteceu... Alguns anos depois, meu Nono foi ao encontro dela.

Aprendi um monte de coisas com ela, Não coisas palpáveis, como costurar ou cozinhar (quisera eu ter tido estes dons), mas coisas mais do lado emocional, de como ver o lado bom das pessoas, de como se alegrar com coisas simples, de como curtir a casa (não a casa propriamente dita, mas o aconchêgo de uma casa feliz), de como evitar brigas (humm, ainda tentando aprimorar isto...), e tantas outras coisas. É claro que não sou uma ''expert'' como ela foi, mas acho que consegui absorver um pouco do jeitinho dela em algumas coisas que faço. Outro presentinho dela e da minha outra vozinha (deve ser genético - e também dos ensinamentos dos meus pais), foi esta vontade que sempre tive de ser dona do meu nariz e não depender de ninguém. Embora sempre reclame de que estou cansada e de que gostaria de ficar em casa, não faço o estilo dona-de-casa, assim como nenhuma das minhas duas vovós fizeram. Ambas trabalharam e lutaram pelas coisas que queriam. Sou muito parecida com elas neste aspecto

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito do que li, e entendi perfeitamente toda colocação que fez. Eu não tive avós assim.........Mas aprendi muito com minha avó paterna, muito sábia, apesar de analfabeta. A avó materna não me deixou quase nenhuma lembrança feliz. Mas foi mãe de minha mãe, nunca entendi como alguém tão desorientada , pode ter uma filha tão perfeita , suave.Eu não tenho um blog , sou mãe da ´Flávia do blog missisclof

Anônimo disse...

Oi querida, lindo saber que apesar de não ter aprendido muito com sua avó materna, ela lhe deu uma mãe maravilhosa. Mães são isto mesmo: maravilhosas, perfeitas, suaves e mais um anjo em nossas vidas!

Um beijo enorme.

Peninha que não tenhas um blog ainda, mas volte sempre e a gente se comunica nos comentários.

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