Minhas avós - Vó Genoveva

Minha Vó Genoveva, ou Vovéia.

Mãe do meu Pai, e do meu Tio Renato, meu Tio Roberto e minha Tia Inês, casada com meu Vô Boles e a vovó que tive que partilhar com muitos primos: Wilson, Karla, Rodrigo, Roberta, Moana, e minhas irmãs. Também foi a sogrinha da minha mãe, da minha tia Rosa, Sandra e do César.

Esta minha vó era bem baixinha, porém tamanho não é documento, e a sua estatura não tinha nada a ver com o tamanho do coração dela. Este era enorme e conseguia abrigar todos. Era dona de um restaurante/pensão, e quando fecho os olhos, a primeira imagem que tenho dela não é à volta das panelas, mas instruindo as cozinheiras do que tinha que ser feito, fazendo com que elas fizessem as coisas mais rapidinho quando haviam muitos clientes para serem servidos, e mesmo depois do horário do almoço, lá estava ela novamente dando ordens de quantos kilos de arroz e feijão tinham que ser escolhidos, carne que tinha que ser comprada, o cardápio do dia seguinte, e assim por diante. Bem, talvez daí que eu tenha adquirido este meu lado meio mandão... Tá vendo, é genético!

Como cuidar de um restaurante não é uma tarefa fácil, minha vó pulava cedinho da cama e lembro dela saindo do quarto já arrumadinha. Uma de suas rotinas pela manhã era passar creme de pepino no rosto, e isto ela fazia mais de uma vez por dia, segundo ela, para não deixar as rugas aparecerem. Era muito vaidosa esta minha vovó. Sempre fazia permanente nos cabelos e quando os seus cachos já estavam bem branquinhos, ela gostava de passar um shampoo que os deixavam num tom suave de lilás.

Passávamos as nossas férias na casa dela, e ela sempre nos esperava com a geladeira cheia de coisinhas que gostávamos, e isto foi uma tradição que ela levou até o dia em que não tinha mais condições de fazer, mas daí ela passou a tradição para a minha tia Rosa, assim que até hoje, quando vou visitá-los, sinto o gostinho e o cheirinho dos meus tempos de criança.

Não preciso descrever quão boa cozinheira ela era, e além da comida do cardápio do restaurante, quando estávamos lá, ela ainda encontrava tempo de fazer um prato especial para nos agradar. O meu preferido era bolinho de banana, minha mãe adorava quirera com bisteca de porco, meu pai aquele bifinho frito na chapa do fogão a lenha... Como passávamos bem!

Quando a correria do horário do almoço passava, ela ia tirar uma sonequinha, e sempre me intrigava o jeito dela dormir: em posição fetal (e eis que hoje em dia me encontor dormindo como ela...). Ao acordar, ela sentava na beirada da cama e em seguida já estava em frente ao espelho se penteando e passando aquele creminho de pepino esperto no rosto. Em seguida, eu já estava atormentando a vida dela, pois adorava jogar cartas com ela. Ela tinha uma paciência e tanto comigo...

Quando ela se aposentou, o restaurante passou para os cuidados do meu tio Roberto e tia Rosa. Ela, meu avô e minha tia Inês mudaram para uma outra casa e ela pode assim curtir uma vidinha mais tranqüila, com uma cozinha menor para gerenciar e sem tantos empregados, mas o gênio meio mandão continuou com ela, e quem passou a receber ordens foi o meu avô. Só me lembro dela chamando o meu avô e pedindo para ele ir ao mercado buscar isto e aquilo. Ele ia e voltava e quando estava sentadinho descansando, ela lembrava de mais alguma coisa e novamente lá ia o meu avô fazer o que ela pedia, na maior tranqüilidade, sempre sorrindo e assoviando (quisera eu ter adquirido este gênio...).

No final das férias, quando estávamos nos despedindo de todos, ela me chamava num canto e me dava uma boa quantia de dinheiro, mas ela pedia para eu manter segredo e não contar para ninguém. Eu me sentia super importante por ter este segredinho com a minha vó, mas obviamente, ela fazia o mesmo com a minha irmã e talvez meus primos (acho eu).

Minha Vovéia sofria de diabetes e acho que se cuidava bastante na frente dos outros, pois muitas vezes a pegávamos comendo bolo e outros doces às escondidas. Ríamos muito quando a pegávamos no flagra.

Uma vez, ela foi operada das varizes, e foi a primeira vez que me dei conta dos riscos de uma operação. Achei que ela poderia morrer, e caí no choro quando fui visitá-la no hospital. Fiquei desesperada à toa, pois correu tudo bem na operação, mas isto foi um fato marcante na minha vida, me deparei com o conceito de um dia poder perder alguém querido.

Minha Vovéia faleceu há alguns anos. Não estava lá quando ela se foi. Sofri com a notícia, chorei (é, sou uma boca aberta, choro sem receios). A última imagem que tenho dela foi quando fui ao Brasil. Ela estava parada na porta da sala da casa do meu tio, eu sentada onde é a garagem, e ela me olhava sem movimentar os olhos. Fui ao encontro dela e perguntei brincando "que tanto me olhava vó?", e ela me disse, ''só estava te espiando e te admirando de longe''.

Uma fofucha!

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