Coisas que me enfurecem

São poucas as coisas que me enfurecem, mas este final de semana duas coisas me tiraram do sério.

Primeira ebulição sangüinea:

A Denise, do blog Sindrome de Estocolmo, fez um post bem interessante sobre uma pesquisa feita nos EUA sobre o uso de tecnologias por mulheres, mostrando como a maioria de nós está mais interessada nos últimos gadgets tecnológicos (celulares, TVs, computadores, câmeras, etc...) do que em produtos tradicionalmente associados a nós, como perfumes, jóias, sapatos. Teve uma pessoa que repondeu ao post dela expressando o seu ponto de vista sobre o assunto, e apesar de eu entender o que ele estava querendo transmitir, achei uma de suas sentenças um tanto ofensivas, principalmente por que sou da área de informática e sei o quanto nós mulheres temos que batalhar para sermos ouvidas e acreditadas nesta área ainda dominada por homens.

Bem, o que me deixou chateada na reposta dele foi isto: ''Agora, uma coisa que ainda estou por vivenciar é ver mulher "consertando" encrenca tecnológica. Não estou dizendo que não exista! Com certeza existe! Mas isto não muda o fato de que entre as centenas de pepinos tecnológicos que presenciei ou dos quais participei (de topologia para cabeamento estruturado, computação distribuida para treinamento de Inteligência Artificial ou curto em EPROMM, entre outros) ainda estou prá ver uma mulher no fim da solução. Que isto mude logo!!"

Foi mais o tom de como a coisa foi escrita que fez o meu sangue subir pela cabeça (e olha que não estou nem na TPM), e quase fiz um comentário no post da Denise respondendo a ele, porém, decidi não fazer por que primeiro não o conheço, segundo o comentário não foi feito no meu blog, terceiro porque talvez a idéia dele não tenha sido zoar da capacidade feminina, pois em linguagem escrita a gente pode perder muito o significado da mensagem, já que algumas delas são passadas através da entonação da voz, gestos do corpo, olhar e tudo mais. Por estes motivos, decidi me acalmar e acabei respondendo ao comentário para a Denise sobre a minha experiência onde trabalho num assunto levemente ligado ao que ela colocou no blog dela.

Voltando a resposta dele, fiquei furiosa porque encrenca tecnológica é o que eu venho arrumando desde 1986 quando comecei a trabalhar nesta área, e além de mim, muitas outras mulheres vêm fazendo isto por muito mais tempo do que eu. Sim ele está certo, existe bastante mulheres fazendo isto, sim, somos minoria, mas isto não muda o fato de que somos capazes de arrumar estes problemas. A mensagem passada no exemplos que ele deu (marcados entre parênteses) é a de que a resolução de tais encrencas tecnológicas são tão difíceis que parecem ser apenas do domínio masculino, já que ele "ainda está para ver uma mulher no fim da solução". O fato dele não ter visto não quer dizer que não existam mulheres capazes, simplesmente ele não as viu. A inferência feita por ele é apenas um reflexo do ambiente em que muitas de nós temos que viver quando trabalhamos em áreas tradicionamente dominadas por homem, ou seja, prove que você é capaz de fazer para que eu possa confiar em você e acreditar na sua capacidade. E por causa de atitudes como esta, muitas de nós passam a vida provando a outros sua capacidade, recebendo menores salários por isto, demorando para receber uma devida promoção. E para poderem se auto afirmar em suas posições e conseguir estas coisas mais rápido, muitas optam por entrar no esquema competitivo homens x mulheres, outras simplesmente decidem imitá-los em comportamento. Felizmente, e quero crer que aqui se encaixam a maioria, a maioria de nós não precisa recorrer a tais recursos e simplesmente levamos a nossa vida profissional a nível de igualdade com os nossos companheiros e companheiras de trabalho.

Bem, para ver como a coisa fez o meu sangue subir pela cabeça é que fiquei pensando nisto por horas, dormi, acordei pensando nisto (já menos enfurecida) e agora estou escrevendo isto aqui no blog. Posso ter interpretado mal esta pessoa, mas o meu desabafo aqui não é um ataque a esta pessoa em particular, pois não o conheço, mas um ataque a pessoas que acham que mulheres não têm a devida capacidade de arrumar tais problemas. E pensar que quando estava no Brasil e o governo baixava aqueles pacotes econômicos cortando zeros da moeda, incluindo tabela de conversão (tablita) numa sexta-feira à noite, e dizia em cadeia nacional de rádio e TV que os bancos iriam abrir normalmente na segunda-feira de manhã, quem, entre os homens, passaram mais de 48 horas acordadas coordenando, analisando, convertendo programas, testando, colocando em produção antes da abertura dos bancos na segunda-feira de manhã? Sim, nós mulheres estávamos lá, e em muitas das equipes, nós éramos a maioria! Em quantas outras situações fui (e sou) chamada para resolver problemas críticos em tantos aplicativos que trabalho e trabalhei? Muitas, que perdi a conta. Quantas vezes tive e tenho, e assim como eu outras companheiras de trabalho, que acordar em horas mais inconvenientes da noites para participar de reuniões por telefone com colegas da Europa e EUA para resolver mil encrencas tecnológicas, e que se não fosse por termos tido tais reuniões, sistemas vitais da empresa e clientes dela teriam ido por água abaixo? Que petulância alguém sequer imaginar que nós mulheres não possamos dar cabo a um solução tecnológica!

Ufa - me sentindo um pouquinho mais calma....

Segunda ebulição sangüinea.

Bem, esta terei escrever outra hora, pois tem uma encrequinha tecnológica e fui chamada para resolver, então com licença e volto depois para conversar sobre isto, mas deixo aqui o link (em inglês) sobre o que me deixou muito enfurecida mesmo. É sobre o ministro da saúde daqui, que como católico praticante e fervoroso, se julga no direito de usar suas crenças religiosas para tentar impedir pesquisa de célula tronco.


Beijocas

6 comentários:

Claudia disse...

Edelize, ainda nem fui lá na Denise, ainda nem vi o post e nem comentário do tal sujeito, mas o meu sangue ferveu aqui só de ler o que vc copiou.. porque ele deve ser cego ou morar sei lá onde.. porque faz muito tempo que conserto encrencas tecnológicas e hoje em dia já não é tão raro assim ver mulheres nestes postos.

Anônimo disse...

Pois é Claudia, pensei em você, nas gurias que fizeram faculdade comigo, nas tantas outras com quem trabalhei e não teve jeito de eu ficar quieta!

Denise Arcoverde disse...

Excelente, Edelize! o Leo é gente boa, mas quis provocar e eu não acho nada demais em eu e você respondermos à altura. Ele não pode ter feito aquele comentario, com uma misoginia assustadora, total desprezo pela capacidade das mulhres, apenas "sem querer".

A questão é que, como diz minha mãe: "quem fala o que quer, ouve o que não quer". Ele precisava ouvir memso.

Beijão!

Anônimo disse...

Oi Denise, independente de quem fez o comentário, o fato é que tocou num ponto em que eu nem sabia que eu era tão apaixonada assim, tanto que tive que escrever a respeito! Realmente, o tom de desprezo para com a nossa capacidade conseguiu soltar o capeta de dentro de mim, hehehe.

O Léo me parece gente boa (pelo blog dele, tenho certeza que é), mas senti uma alfinetada caprichada da maneira como a frase foi construída: primeiro aquele tom de desprezo seguido de uma exclamação favorável (técnica muito usada por gerentes em época de avaliação de desempenho!!! - acho que estou lendo muito sobre liderança e gerenciamento hehehe).

Beijocas - a sua resposta foi a altura!

Unknown disse...

É, o sangue ferve mesmo...e não te tiro a razão, tb trabalho nesta área e realmente o machismo é grande.
Pessoalmente acredito que o que o Senhor que publicou o comentário nunca tenha observado é a capacidade das mulheres que trabalham ou já trabalharam com ele. Afinal, para um mulher conseguir um cargo de liderança em qualquer área das ciências exatas ela tem que demonstar o dobro de eficiência de um homem..tsttss..
É um preconceito velado em elogios do tipo "estava faltando um toque feminino aqui" e outras coisinhas do tipo.
ps: fui parar no seu blog pelo blog sindrome de Estocolmo...

Anônimo disse...

Oi Bianca, bem-vinda! É verdade! Cansei de ouvir comentários com este, 'toque feminino'. É uma área em que para nós mulheres, além dos desafios do dia-a-dia, ainda temos que trabalhar em dobro se quisermos um cargo de liderança! Infelizmete, ainda existe um desprezo para com a capacidade feminina nesta (e em outras áreas), e a atitude deste senhor só vem a confirmar que ainda existem pessoas muito preconceituosas (ou assustadas) com a nossa capacidade! Beijos!

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